por José Seabra
O cenário foi o Plenário da Câmara Legislativa. Faz pouco tempo. Mas, para quem é supostamente atacado pelo Mal de Alzheimer, o ontem pode ser comparado a um passado longínquo. O dia, 1º de janeiro. O ano, 2011.
Agnelo Queiroz estava tomando posse no governo do Distrito Federal.
Brasília deixará de ser sinônimo de corrupção. As negociatas e práticas
incompatíveis com o serviço público deixarão de existir, porque a capital da
República não pode ser motivo de achincalhe e piada nacional.
Folheio aqui na rede as páginas do pronunciamento do governador.
Palavras, frases e períodos inteiros grifados com minha caneta. Corrupção e
transparência são a tônica do discurso. Encosto os papéis de lado e abro a
caixa de emails. E confirmo o que temia. O alemãozinho atacou de vez a memória
do governador.
É difícil acreditar que as palavras de Agnelo tenham sido levadas pelo
vento em tão pouco tempo. Corrupção há – os processos em curso que o digam. Já
a transparência, que mereceu uma Secretaria, é vista através de um vidro turvo,
salpicado com a poeira que cobre Brasília nesta época do ano. E o vidro,
consequentemente, está enlameado.
Há 15 dias, o governador entrou mais uma vez em rota se colisão com seu
vice, ao demitir um administrador supostamente envolvido em corrupção. Festa
para o aniversário da cidade, dinheiro saindo pelo ralo para engordar contas
bancárias de maus servidores. Filippelli gritou. Afinal, era um seu
apadrinhado. Agnelo fez ouvido de mouco.
Agora, a caneta do governador volta a surpreender negativamente. Agnelo
vetou o parágrafo de uma Lei da deputada Eliana Pedrosa (PSD) aprovada pela
Câmara Legislativa, que exigia transparência nos gastos públicos. E a expressão
transparência, que passou a ser uma espécie de palavra chave no vocabulário do
governo, ficou apenas da boca para fora.
A proposta de Eliana Pedrosa saiu redonda da Câmara Legislativa. Bastava
ao governador assinar e marcar o gol. Porém, antes de pegar a caneta, Agnelo
mandou apagar o que havia de mais importante no texto legal: “... as placas
afixadas (informativas sobre eventos) devem conter o número do contrato
firmado, o valor, o nome das partes contratantes e a data de realização.” Mas a
lei, maquiada pelo Palácio do Buriti, foi publicada no Diário Oficial exigindo
que a placa anunciasse apenas que vai rolar a festa.
Com essa postura do governador, a transparência foi para o brejo de uma
vez por todas. E o cidadão, que paga seus impostos religiosamente em dia,
ficará mais uma vez sem saber para onde, para o quê e, em muitos casos, para o
bolso de quem vai o dinheiro do seu suor.
Eliana Pedrosa, aguerrida, não entregou os pontos. Vai tentar junto aos
seus pares derrubar o veto.
O argumento da deputada é inquestionável: é lamentável que um governo
que se diz transparente vete um mecanismo tão importante. Ser informado do
básico é o mínimo que o cidadão precisa para avaliar como está sendo gasto o
dinheiro dos seus impostos, disse Eliana a Notibras.
Vou deixar a rede e procurar um médico especialista em Alzheimer. Não
será preciso muito esforço para encontrar um geriatra ou neurologista que
prescreva um remédio para o governador. Porque, como enfatizou Agnelo no
discurso de posse, "as nuvens tempestuosas de uma das piores crises do DF
ainda não se dissiparam".
Fonte: Notibras
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