Já que, enfim, Lula está sendo enquadrado pela justiça, creio ser
pertinente fazermos um breve resumo do seu primeiro mandato, no qual foi
iniciada a degradação política e institucional que enoja a sociedade
brasileira.
2003.
Em 1° de janeiro, a cerimônia de posse foi precedida por shows de
música que entreteram 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
No Congresso Nacional, diante de uma plateia que contava com as
presenças de Fidel Castro e de Hugo Chaves, Lula utilizou seu discurso
para filosofar sobre honestidade e ética. “Ser honesto é mais do que não
roubar; é também aplicar com eficiência e transparência, sem
desperdícios, os recursos públicos”, disse. Foi aplaudido de pé.
Na mídia, não havia espaço para nada além da celebração do “homem do povo” que havia chegado à Presidência da República.
No Parlatório, um sorridente Fernando Henrique Cardoso passou a faixa
presidencial à Lula como quem passa o comando da churrasqueira ao
melhor amigo.
No Palácio do Planalto, uma grande festa organizada pelo marqueteiro
Duda Mendonça (ex-marqueteiro de Paulo Maluf) foi oferecida às
delegações estrangeiras e a convidados especiais.
O primeiro time ministerial promoveu as primeiras bizarrices do
governo Lula, destacando-se as propostas de se dar “uso mais social” às
forças armadas. O ministro dos esportes propôs abrir os quarteis para
práticas esportivas. O ministro dos transportes propôs mandar o exército
construir estradas. O ministro da educação propôs utilizar o exército
para erradicar o analfabetismo. O exército foi indicado até para acabar
com a pobreza.
Ao mesmo tempo em que reafirmava o compromisso de erradicar a
miséria, Lula criava secretarias, distribuía cargos e dava plena
liberdade para seus companheiros se utilizarem do dinheiro público como
bem quisessem. Quanto mais próximo ao presidente, mais liberdade se
tinha. Gastos, de todos os tipos, foram multiplicados em questão de
meses. Apenas o Palácio do Planalto gastou, por meio dos cartões
corporativos, R$ 125 milhões naquele ano.
Ficava evidente o caráter demagógico do PT. Quando Fernando Henrique
Cardoso criou os tais cartões corporativos, os petistas prometeram
investigar seus gastos assim que pudessem. Logo após Lula tomar posse, o
sigilo desses gastos passou a ser uma questão de segurança nacional.
Evidenciou-se também a estratégia de calar adversários
entregando-lhes nacos do poder. Ciro Gomes, o mais ferrenho crítico do
PT durante a campanha eleitoral do ano anterior, na qual também era
candidato à presidência, aquietou-se logo que recebeu de presente o
Ministério da Integração Nacional, criado especialmente para ele.
Comprovando que socialistas gostam mesmo é de luxo pago com dinheiro
dos outros, uma das providências do novo governo foi reformar e
reaparelhar a Granja do Torto e o Palácio do Planalto. Aviário e sala de
ginástica foram construídos. Numa das listas de compras, constavam 2
mil latinhas de cerveja, 610 garrafas de vinho, 150 jogos de cristais
lapidados a mão, 600kg de bombons, 2 mil vidros de pimenta envelhecidas
em barril de carvalho e 6 mil barras de chocolate. Enxovais novos também
foram encomendados, destacando-se os roupões feitos de fios egípcios.
Lula não esperou chegar nem na metade de seu primeiro ano no poder
para assinar um decreto que dava total poder ao Ministro da Casa Civil,
José Dirceu, para criar cargos de confiança e nomear quem quisesse para
ocupá-los. Resultado: 15 mil cargos criados em oito meses de governo.
O jeito petista de distribuir cargos foi simbolizado pela nomeação de
Paulo Okamoto a uma das diretorias do SEBRAE. O detalhe é que o
agraciado havia pago despesas pessoais de Lula no ano anterior − dois
anos depois, Okamoto foi alçado à presidência da empresa e em 2011
ajudou a fundar o Instituto Lula, do qual é o atual presidente.
Não havia pudores. Como diretora do Instituto Nacional do Câncer, foi
nomeada uma senhora cuja experiência se resumia a pasta de parques e
jardins da prefeitura do Rio de Janeiro.
No esforço de se apagar da história toda e qualquer medida positiva
do governo anterior, os programas sociais criados por FHC foram
unificados e batizados como Bolsa Família, nome dado por Duda Mendonça.
Pouco antes, fora criado o programa Fome Zero, que consumiu R$ 24
milhões para ser idealizado, mas que foi lançado sem ter sequer uma
conta bancária aberta para receber as doações. Para gerenciá-lo, foram
criadas seis secretarias e um ministério. A Secretaria da Mobilização
Social foi instalada no Palácio do Planalto, mas ficou ali por pouco
tempo. Algumas semanas. Assim que o programa foi anunciado, o gabinete
foi transferido para um anexo na esplanada. Em seu lugar foi instalado o
“gabinete” da primeira-dama, Marisa Letícia, uma inovação do governo
petista.
O programa Fome Zero fracassou, assim como o programa Primeiro Emprego que, após um ano, havia criado menos de 600 empregos.
João Paulo Cunha, então Presidente da Câmara, também inovou ao chamar
o batalhão de choque da PM para conter as manifestações contra a
reforma da previdência. Pela primeira vez na história do Brasil, a
polícia desceu o pau dentro do Congresso Nacional.
O primeiro petista corrupto a ser agraciado com a proteção do governo
foi o então governador de Roraima, acusado pela Polícia Federal de ter
desviado nada menos do que R$ 200 milhões.
O primeiro petista a abandonar o partido foi Fernando Gabeira,
indignado com a complacência de Lula em sua visita a Cuba na época em
que Fidel Castro havia mandado fuzilar três e condenado à morte quatro
opositores.
A primeira reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
desde que Lula havia sido eleito ocorreu num luxuoso hotel de Brasília.
Nela se definiu a aliança com o PMDB. José Sarney, de histórico vilão
foi convertido a aliado importante e muito bem recompensado. Só em seu
estado, o coronel maranhense indicou 36 pessoas para cargos em órgãos
federais.
A generosidade com que Lula tratava seus apoiadores provocou uma onda
migratória no Congresso. Só não foi para a base do governo quem não
quis. O PMDB passou de 69 para 77 deputados. O PTB passou de 41 para 55.
O PP passou de 43 para 47. O PL passou de 33 para 43. O PSDB e o PFL
(DEM) perderam 12 e 8 deputados, respectivamente.
Lula bateu todos os recordes de viagens. A países do terceiro mundo e
sem relevância comercial, foram 21 visitas, sempre levando centenas de
pessoas nas comitivas. Perdoou dívidas, anunciou financiamentos e fez
doações a ditaduras africanas.
Parecendo ainda estar em clima de campanha, Lula era visto quase
todos os dias em algum palanque esbravejando contra as elites e
elogiando a si mesmo.
2004.
Seu segundo ano na presidência começou com o Ministério do
Planejamento anunciando a substituição do avião presidencial, conhecido
como “sucatão”. Uma ideia rejeitada por Fernando Henrique Cardoso sob o
argumento de contenção de despesas. Lula optou por um modelo da Airbus
em vez de um modelo semelhante, fabricando pela Embraer. Foram gastos R$
57 milhões na compra da aeronave e U$ 13 milhões em sua decoração.
No mês de fevereiro eclodiu o primeiro o escândalo de corrupção
envolvendo o poder executivo. Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu,
foi flagrado em vídeo cobrando propina para o PT e para ele próprio.
Foram apenas dois dias de desconforto. Logo Lula e toda a militância
petista saíram em defesa do acusado. Semanas depois, também veio a
público o envolvimento de Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
Iniciava-se uma longa e contínua pauta política-policial envolvendo membros graúdos do Partido dos Trabalhadores.
Um mês depois da divulgação da fita do Waldomiro, o governo conseguiu
impedir a criação da CPI que investigaria a morte do petista Celso
Daniel, ex-prefeito de Santo André, cujo assassinato era visto por
muitos como queima de arquivo, já que a vítima foi apontada pelo seu
próprio irmão como membro de um esquema de cobrança de propina em
benefício de campanhas do PT.
Para impedir que o assunto dominasse a mídia, foi anunciada a Expo
Fome Zero, um evento que daria pauta positiva ao governo. O detalhe é
que o evento seria organizado pelo Ministério da Segurança Alimentar,
extinto semanas antes. Lula fez uma dúzia de discursos sobre o evento
que não foi realizado.
As inovações petistas continuavam: Lula foi o primeiro Presidente da
Republica pós-regime militar a expulsar um jornalista do país. A vítima
foi Larry Rotter, do New York Times, que ousou escrever uma matéria
sugerindo que Lula bebia demais.
No mesmo mês de maio a Polícia Federal desencadeou a Operação
Vampiro, que levantou um desvio de mais de R$ 2,3 bilhões dos cofres
públicos. Entre os envolvidos, o então ministro Humberto Costa (atual
líder do governo no senado) e novamente Delúbio Soares, posteriormente
condenado no processo do mensalão.
Veio a público também que o petista José Mentor (hoje investigado
pela Operação Lava Jato) se utilizava de documentos e informações da CPI
do Banestado, da qual era o relator, para extorquir empresários.
Desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, o uso da máquina
estatal e do dinheiro público passou a ser um procedimento tão
rotineiro que os petistas não se davam nem ao trabalho de esconder seus
feitos. Um exemplo: Para angariar fundos para a construção de sua sede
em São Paulo, o PT promoveu um show privê do Zezé de Camargo e Luciano
numa famosa churrascaria e mandou o Banco do Brasil comprar os ingressos
ao custo de R$ 1 mil cada um.
Entre os absurdos cotidianos e as sistemáticas negações e retóricas
de Lula e do PT, o governo tentou aprovar o Conselho Federal de
Jornalismo, eufemismo para órgão de censura, que teria a missão de
“orientar, disciplinar e fiscalizar” a atividade dos jornalistas,
prevendo um código de conduta e penas para os infratores.
Era apenas o segundo ano de governo e os petistas já se sentiam acima
da lei, da ética e da moral. Quando um vereador petista foi preso numa
rinha de galo na companhia de Duda Mendonça, tudo foi resolvido com um
telefonema dado pelo marqueteiro ao ministro da justiça. O flagrante não
provocou o repúdio de nenhum artista e de nenhum grupo de defesa dos
direitos dos animais. Na imprensa, o caso mereceu pouca atenção.
Era ano de eleições municipais e o Partido dos Trabalhadores nunca se
vira com tanto dinheiro em caixa. Desde que Lula foi eleito, seus
recursos foram multiplicados. Em 2004, o PT gastou em suas campanhas
mais de R$ 100 milhões de reais, enquanto PSDB, PFL (atual DEM) e PMDB
gastaram, somados, R$ 90 milhões. Em São Paulo, a campanha da Martha
Suplicy à prefeitura contratou 4 mil cabos eleitorais.
A quase totalidade da imprensa negou-se a fazer um simples questionamento: De onde vinha o dinheiro?
O clima eleitoral desviou o foco da notícia dos 800 kg de camarão
comprados pelo ministério da defesa de uma só vez, mas bastou as
eleições terminarem para a Polícia Federal deflagrar a Operação
Pororoca, enquadrando petistas até então anônimos no crime de desvio de
mais de R$ 100 milhões, no Amapá.
Foi nesse ano que Lula gravou seu bordão “Sou brasileiro, não desisto
nunca”. Bordão coerente com os dias em que vivemos hoje, com o próprio
Lula insistindo em ser visto e tratado como Deus.
2005.
A primeira grande notícia do ano foi o anúncio de que Lula pagaria a
dívida do país com o FMI. Foi assim mesmo que foi anunciado. Não seria o
governo que pagaria a dívida. Seria Lula. Porque Lula quis. Porque Lula
é bom. Porque Lula quer o melhor para o Brasil. Mas as comemorações não
duraram muito. Logo explodiria o escândalo dos Correios, que levaria ao
escândalo do mensalão, escancarando o jeito petista de governar.
Todos os esquemas foram publicados em jornais e revistas e noticiados
na televisão devidamente amparados por vídeos, documentos, extratos
bancários e testemunhos de pessoas ligadas ao PT e ao Presidente da
República. Duda Mendonça afirmou ao vivo e para todo o Brasil que a
campanha de Lula à presidência foi paga com dinheiro ilegal, vindo de
contas no exterior, um crime descrito em lei e que previa – e ainda
prevê − como pena o cancelamento do registro do partido e a cassação da
chapa eleita.
Houve quem dissesse que aquele era o fim do PT e do governo Lula.
Alguns petistas bandearam-se para outros partidos da esquerda. O
Ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, respondeu as acusações
dizendo que tudo não passava de uma tentativa de golpe das elites.
Outros esquemas vieram a público. Desvio de dinheiro em Furnas, na
Infraero e na Eletronuclear. Desgraça do PT e de Lula? Não. Ambos se
safaram com extrema desenvoltura. Aos parlamentares, foram liberados R$
400 milhões, cifra elevada considerando que o governo repassou a todos
os ministérios, nos cinco primeiros meses daquele ano, R$ 271 milhões.
Apesar da pesquisa divulgada pelo Datafolha publicada em 5 de junho,
que dizia que 65% dos entrevistados consideravam o governo corrupto,
Lula contava com a defesa de sindicatos, artistas, intelectuais,
movimentos sociais e da maioria dos meios de comunicação.
Em discurso transmitido em cadeia nacional, Lula disse que a
corrupção era uma vergonha, mas que nem seu governo nem ele tinha
qualquer relação com isso. Lula assumiu que houve caixa-dois em sua
campanha, porém, disse que seria hipocrisia ser condenado por algo que
“todo mundo faz”.
Os partidos vistos como “oposição” preferiram se conter para não
serem vistos como oportunistas e golpistas. FHC e Aécio Neves não
tiveram vergonha em defender Lula. Na grande mídia, não se contava nem
meia dúzia de jornalistas que se manifestavam contra os métodos
coercivos do governo.
Por conta do escândalo do mensalão, José Dirceu se viu obrigado a
deixar a Casa Civil. Despediu-se do cargo com a clássica retórica
petista: “A elite reacionária quer derrubar o governo socialista e
popular do presidente Lula”. Foi substituído por uma tal Dilma Rousseff.
Foi nesse ano que aconteceu o Foro de São Paulo, evento bancado com
dinheiro público brasileiro e que reuniu na capital paulista a mais alta
corja do socialismo latino-americano. Foram traçados os planos para que
partidos de esquerda chegassem ao poder noutros países e acertados
acordos de ajuda mútua.
Na França, aconteceu o “Ano do Brasil”. Os diversos eventos que foram
realizados no país justificaram uma verdadeira farra com dinheiro
público brasileiro. Hordas de artistas, intelectuais, de funcionários
públicos, de ativistas e de políticos foram enviadas ao berço da
intelligentsia socialista. Aproveitando-se do clima, o governo
brasileiro assinou mais um acordo em que a França lucrou e o Brasil
perdeu: A compra de uma dúzia de caças sucateados.
O sucesso político de Lula contagiava os empreendimentos de seus
filhos. Fábio Luiz Lula da Silva, conhecido como Lulinha, teve sua
inexpressiva empresa agraciada com a injeção de R$ 5 milhões por parte
de uma grande empresa de telefonia exatamente na mesma época em que o
governo federal revia as regulações do setor.
Quase no mesmo dia, um assessor de José Genoíno foi preso no
aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na
cueca.
No mês seguinte, Antônio Palocci, então Ministro da Fazenda, foi
delatado por um ex-assessor que afirmou que ele recebia uma “caixinha”
de R$ 50 mil por mês de uma empreiteira, quando era prefeito de Ribeirão
Preto.
Nova pesquisa do Datafolha apontava que 78% dos brasileiros acreditavam que o governo era corrupto.
Lula continuava a ser um paradoxo político. Mantinha-se forte no
governo apesar da maioria da população crer que ele tinha conhecimento
dos esquemas de corrupção que estampavam os jornais. Lula sustentava-se
em três pilares: Militância forte, coesa, bem remunerada e distribuída
em todos os nichos sociais e em todos os níveis do estado; o aparente
desenvolvimento econômico e social do Brasil; Bolsa Família.
2006.
O ano começou com o comparecimento de Antônio Palocci à CPI dos
Bingos. Foi acompanhado de José Sarney e de Renan Calheiros, que lhe
prestaram apoio moral. Na mesma seção, outro ex-assessor de Palocci
afirmou que a campanha de Lula à presidência recebeu US$ 3 milhões de
Cuba. A acusação repercutiu na mídia por apenas um dia, antes de
desaparecer do noticiário.
Dois meses depois, o caseiro de uma mansão em Brasília, utilizada
para reuniões políticas e orgias com prostitutas de luxo, declarou em
entrevista ao Estadão que Antônio Palocci era um dos frequentadores.
Outra testemunha confirmava a acusação. Nas reuniões, eram discutidos os
termos dos esquemas de favorecimento entre governo e empresas. Todas as
despesas eram pagas em dinheiro vivo, levado em malas.
Lula, bem ao seu estilo, saiu em defesa de Palocci. Desqualificou o caseiro.
Antônio Palocci reagiu mandando a Caixa Econômica vasculhar a vida
bancária do rapaz. Os R$ 25 mil descobertos em sua conta foram plantados
na mídia como sendo pagamento do PSDB pelo serviço de uma falsa
acusação. Não era. O dinheiro fora depositado pelo pai do caseiro,
referente a um acordo de reconhecimento de paternidade.
Palocci foi substituído no Ministério da Fazenda por Guido Mantega, até então presidente do BNDES.
Em setembro, dois filiados do PT foram detidos num hotel em São Paulo
com nada menos do que R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo que, segundo eles,
seria utilizado para comprar um falso dossiê sobre José Serra.
Enquanto Lula, diante dos holofotes, repudiava a ação de seus
companheiros, seu governo tratava de abafar o caso para que o episódio
não respingasse na campanha eleitoral em curso.
Sua campanha à reeleição foi baseada na estratégia de fazer falsas e
sistemáticas afirmações sobre o adversário para obrigá-lo a perder mais
tempo desmentindo-as do que falando de seus projetos. Alckmin teve que
repetir mil vezes que não privatizaria a Petrobrás. Lula foi reeleito.
A fantástica versão da realidade social e econômica martelada
cotidianamente na cabeça dos brasileiros escondia números em nada
elogiáveis. Desemprego em 8,4%. Crescimento econômico abaixo da média
mundial e quase a metade da média dos países do chamado BRICs. Os
índices de saneamento básico, de educação, de saúde e de segurança
pública continuavam tão vergonhosos quanto antes da chegada de Lula ao
poder.
Em apenas um mandato, Lula concentrou a produção econômica nas mãos
do estado como nenhum outro governo havia feito após o regime militar. A
participação do governo no setor petroquímico passou de 46% para 63%;
nas termelétricas, pulou de 11% para 44%; na distribuição de
combustíveis, foi de 24% para 32%. A indústria como um todo perdeu 10%
para o agronegócio.
A política intervencionista do governo Lula não se dava apenas
através de regulações e do aparelhamento das estatais. Por meio do
BNDES, o governo passou de 24 participações em empresas privadas em 2002
para 37 em 2006.
Os altos preços das commodities engordaram o caixa da União
na mesma proporção em que o governo injetava dinheiro nas maiores
empresas do país, nos sindicatos, nos movimentos sociais, na imprensa
chapa-branca e na classe artística. O pouco que sobrava era dividido
entre programas sociais e projetos de infraestrutura.
A “redução da pobreza” festejada pelo governo se deu por causa da
mudança dos critérios de avaliação, que fez com que milhões de pessoas
fossem alçadas, do dia para a noite, da classe baixa para a classe
média. Engodo. Não houve nem uma coisa nem outra. Não havia toda a
pobreza anunciada e os miseráveis que existiam não se tornaram outra
coisa.
Na época, o IBGE divulgou uma pesquisa que indicava que apenas 4% da
população se encontrava na extrema pobreza quando Lula chegou ao poder.
Ou seja: Lula não herdou um país assolado pela miséria. A título de
comparação, o Haiti contava com 19% de miseráveis, a Etiópia com 38% e a
Índia com 49%.
Sim, 4% da população representava, naqueles anos, quase 4 milhões de
pessoas. É muita gente. Porém, essas pessoas continuavam miseráveis ao
final do primeiro mandato de Lula. Nada mudou. O sertão nordestino
continuava do jeito que sempre foi.
Lula foi reeleito dizendo que ele havia mudado o Brasil, quando na
verdade a maior parte da população continuava vivendo em bairros
insalubres e sendo assistida por péssimos serviços públicos. A única
diferença era que, como “nunca antes na história desse país”, milhões de
pessoas pobres puderam comprar televisores modernos para ver novela e
futebol.
O Instituto Data Favela publicou, em 2014, uma pesquisa que registra
que para 96% dos moradores das favelas brasileiras, NÃO foi o governo o
responsável por sua melhoria de vida. 40% creditavam a Deus, 42% a si
mesmos e 14% a ajuda da família.
A “inclusão social” que também era comemorada por Lula foi uma
bem-sucedida estratégia para desviar o foco sobre a péssima qualidade do
ensino público. Em vez de melhorar o ensino básico para que os
estudantes mais pobres tivessem mais condições de competir por vagas nas
universidades públicas, Lula preferiu criar programas de cotas.
Comprovando o caráter discriminatório do socialismo, estudantes mais
capacitados perderam vagas para estudantes menos capacitados em função
da tonalidade da pele. Lula reinstitucionalizou o racismo no Brasil.
Completando a política da “inclusão social” do PT, foram promovidos
inúmeros concursos, contribuindo para o inchaço das contas públicas e
jogando no lixo todo o esforço do governo anterior em equilibrar as
contas da União.
Por fim, o objetivo de Lula de se diferenciar de seu antecessor não
foi totalmente atingido. Lula gastou em propaganda o mesmo que FHC.
Média de R$ 1 bilhão por ano.
Bibliografia recomendada:
Aldo Musacchio e Sergio Lazzarini, Reinventando o capitalismo de estado.
Marco Antônio Villa, Década perdida.
Paulo Rabello de Castro, O mito do governo grátis.
Renato Meirelles e Celso Athayde, Um país chamado favela.
Diogo Mainardi, A tapas e pontapés.
Diogo Mainardi, Lula é minha anta,
Lucia Hippolito, Por dentro do governo lula.
Rodrigo Constantino, Estrela cadente.
Reinaldo Azevedo, O país dos petralhas (I e II).
Bruno Garschagem, Pare de acreditar no governo