Se você
chegou até aqui, é um sinal que sabe ler. Se está entendendo
completamente o que está escrito aqui, já não se encaixa mais na
categoria de analfabeto funcional – aquele que consegue ler as palavras,
mas não compreende o sentido da frase. Sinta-se privilegiado: 38% dos
acadêmicos do país são considerados analfabetos funcionais. Entre os
alunos do último ano do Ensino Médio da rede pública, 78,5% não
apresentaram proficiência mínima em leitura. Já na prova de Matemática,
95% apresentaram não demonstrar domínio sobre conhecimentos básicos
esperados para sua idade.
São
números alarmantes. Os problemas da nossa educação não atingem metade
dos alunos, não atingem só a “turma do fundão”: ela se mostra na
absoluta maioria dos alunos – e boa parte daqueles que se destacam sabem
apenas o básico.
Estes
índices, no entanto, são apenas a ponta do iceberg: os números da
educação brasileira vão de mal a pior em praticamente todos os
indicadores, apesar de investirmos proporcionalmente mais que países
como a Espanha, Coreia do Sul, Alemanha, Canadá e Estados Unidos. Na
lista abaixo você confere essas e outras estatísticas sobre a nossa
“Pátria Educadora”.
1) Temos, proporcionalmente, menos pessoas com ensino superior do que o Azerbaijão e a Colômbia.
Em 2000, apenas 16,5% dos brasileiros possuíam diploma superior. A taxa
era menor que a do México (20,7%), Azerbaijão (22,3%), Arábia Saudita
(22,4%), Colômbia (23,3%), Cazaquistão (30,9%) e Bolívia (35,7%).
Dados mais recentes,
coletados em 2011 pela OECD, mostravam uma piora do índice: somente
12,74% da população possuía diploma superior. Entre os 36 países
analisados, ficamos no último lugar. Até o penúltimo colocado, a
Turquia, dava uma lição ao Brasil: 18,87%.
2) 95% dos alunos saem do Ensino Médio sem conhecimentos básicos em matemática.
A ONG Todos Pela Educação compilou
em 2013 os resultados de exames realizados com alunos de todos os
estados do país para determinar os níveis de aprendizado principalmente
nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.
Os
números são desanimadores. Apenas 4,9% dos alunos do 3º ano do Ensino
Médio matriculados na rede pública atingiram a nota mínima para terem
seus conhecimentos considerados adequados pelos examinadores – ou seja,
menos de 5% dos alunos sabiam o que deveriam saber.
3) Gastamos mais porcentagem do PIB com educação do que países desenvolvidos…
O valor gasto pelo governo com educação no país representava 5,7% do PIB em
2012. A taxa, apesar de parecer pequena, é superior ao gasto com
educação por países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Itália,
Rússia, Alemanha, Canadá e Austrália no mesmo ano.
Mas não
pense que essa é uma boa estatística: dado o nosso baixo desempenho em
diversos rankings de educação (inclusive entre os realizados dentro do
próprio país), é fácil entender como boa parte desse dinheiro é mal
administrado.
E ainda
tem outro problema: apesar do gasto em relação à economia estar num bom
patamar, o valor que o governo gasta para manter cada aluno na escola
está muito longe do ideal:
4) … Mas o gasto por aluno é um dos mais baixos do mundo.
A
comparação do gasto com educação em relação ao PIB pode levar a um
equívoco: apesar de gastarmos mais que diversos países, nosso PIB per
capita ainda é muito baixo, consequência da baixa produtividade e da
enorme burocracia do país.
Desta forma, ainda que o gasto seja proporcionalmente alto, o valor que é investido em cada estudante está
muito abaixo da média dos países da OECD, que todo ano gastam em torno
de US$ 9,5 mil com cada discente. O Brasil investe menos de US$ 2,7 mil
por ano em seus alunos. No ranking mundial, estamos ao lado de países
como Colômbia, México e Indonésia.
Sem
desenvolvimento econômico e diminuição da burocracia, nossa educação
nunca sairá do lugar, por mais que rios de dinheiro sejam despejados no
sistema.
5) Quase 40% dos universitários são analfabetos funcionais.
Há hoje no
país 9 milhões de pessoas que até conseguem ler, mas não conseguem
interpretar o sentido da frase – são, por definição, analfabetos
funcionais. Mas estes 9 milhões que me refiro não são compostos de
alunos do Ensino Fundamental ou adultos que largaram os estudos antes de
se graduarem: são todos estudantes ou graduados do nível superior,
cerca de 38% da nossa massa acadêmica.
6) Não conseguimos completar 4 das 5 metas para educação que nós mesmos nos propusemos.
Durante a
fundação da ONG Todos Pela Educação, em 2006, foram estipuladas 5 metas
para melhorar a educação do país até 2022: toda criança e jovem entre 4 a
17 anos na escola, toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos,
todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano, todo jovem concluindo o
ensino médio até os 19 anos e ampliação do investimento na educação.
As metas definidas pela organização foram aceitas pelo MEC como um compromisso do Ministério para os próximos anos.
Para a
conclusão das metas no prazo estipulado, a ONG organizou metas anuais,
que aumentam de forma gradual, para que o sistema de ensino possa se
adaptar. Mas, apesar dos esforços, das 4 metas, apenas a última vem
sendo concluída como esperado.
Todas as
outras estão falhando em quase todos os estados e, apesar de algumas
Unidades da Federação se destacarem, nenhuma delas conseguiu concluir
até o momento todas as metas anuais propostas.
7) 73% dos brasileiros não são plenamente alfabetizados.
Apenas 26% das pessoas que realizaram os testes do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) tiraram nota suficiente para se enquadrarem como plenamente alfabetizadas na última avaliação, realizada em 2011.
Além de
alarmante, o número de brasileiros plenamente alfabetizados só vem
caindo: eram 28% em 2007, caíram para 27% em 2009 e no último teste
desceram para 26%. Apesar do número de analfabetos cair desde 2000, o
número de pessoas com alfabetização considerada Rudimentar ou Básica vem
subindo, o que significa que a educação dada aos analfabetos não possui
um padrão de qualidade.
8) 78,5% dos alunos saem do Ensino Médio sem conhecimentos em língua portuguesa adequados para a idade.
Dados da
ONG Todos pela Educação mostram que, entre os alunos da rede pública
matriculados no terceiro ano do Ensino Médio em 2013, somente 21,5%
apresentaram conhecimentos adequados para a idade em Língua Portuguesa.
Nas regiões Norte e Nordeste, os números são ainda piores: 12,4 e 12,7%,
respectivamente.
O
resultado passou bem longe da meta estabelecida pela ONG para aquele
ano, de 39%. Nesse ritmo, nunca alcançaremos a meta final de termos mais
de 70% dos alunos se formando com conhecimentos adequados para a sua
idade; pelo contrário: quase 80% deles estão se formando sem saberem o
básico.
9) Os resultados só pioram com o passar dos anos.
Os números
sobre a educação no tempo certo (Meta 3) do Todos Pela Educação mostram
que o desempenho dos alunos tem piorado à medida que eles avançam pelo
ensino.
No 5º ano
do Ensino Fundamental, as notas dos alunos da rede pública não atingiram
a meta estabelecida por menos de 5 pontos percentuais em Língua
Portuguesa e por 7 pontos em Matemática na média geral. A pequena
distância facilitou para que diversos estados atingissem e até
ultrapassassem as metas.
Mas na
avaliação do 9º ano do Ensino Fundamental, a distância entre as metas e a
realidade aumentou muito e nenhum estado chegou a efetivamente
cumpri-las. Na média do país, faltaram 19 pontos percentuais em Língua
Portuguesa e 25 pontos em Matemática. No Ensino
Médio, como já mencionado acima, os números também são péssimos e
nenhuma Unidade da Federação conseguiu entregar os objetivos propostos
até agora para nenhuma das disciplinas. Apesar disso, a distância entre a
realidade e os números exigidos pela ONG diminuiu levemente, passando
para 17 e 23 pontos de diferença nas duas matérias. A baixa qualidade do
ensino entre o 5º e o 9º ano, porém, contribuem para que os alunos
continuem atrasados na educação durante a etapa final do Ensino Básico.
10) Estamos em queda livre no ranking do Pisa desde 2000.
No tão
aclamado ranking Pisa, organizado pela OCDE para medir a educação em 65
países, o Brasil nunca foi destaque. O problema é que estamos caminhando no sentido contrário de uma evolução.
Apesar da
nota do Brasil ter crescido nos últimos anos, como fez questão de
destacar o então Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, em 2013,
nossa posição nunca subiu em nenhum das 3 matérias avaliadas desde o
primeiro exame.
Ou seja,
mesmo que a nossa nota tenha subido nos últimos testes, ela está
crescendo numa proporção muito menor que a atingida pelos outros países.
Se continuarmos assim, estaremos confinados às últimas posições do
índice por um bom tempo.
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