Lula sabia que a única forma de ficar no poder com um
grupo político feito de pessoas medíocres, despreparadas, hipócritas e
desesperadas por cargos e verbas era se fingir de coitado, chorar e
parasitar o Estado brasileiro com todas as suas forças
Guilherme Fiuza — O Globo
O ex-presidente bonzinho do Uruguai, José Mujica, contou que o
ex-presidente bonzinho do Brasil, Lula da Silva, se sentiu culpado pelo
mensalão. Está registrado e agora publicado em livro: segundo o
companheiro Mujica, Lula lhe confidenciou que o mensalão era “a única
forma de governar o Brasil”.
Que ninguém tome isso ao pé da letra. Não é que o mensalão seja a
única forma possível de governar. Tem também o petrolão e seus
derivados. Ou seja: a única forma de governar o Brasil é roubar os
brasileiros, enriquecer o partido e comprar a vida eterna no poder.
Esse golpe está sendo dado há 12 anos, e há dez o Brasil brinca de se
perguntar se Lula sabia. Eis a resposta entregue de bandeja pelo amigo
de fé, irmão camarada Mujica: Lula sabia que a única forma de ficar no
poder com um grupo político feito de pessoas medíocres, despreparadas,
hipócritas e desesperadas por cargos e verbas era se fingir de coitado,
chorar e parasitar o Estado brasileiro com todas as suas forças.
O império do oprimido ofereceu ao país incontáveis chances de
perceber a sua única forma de governar. Escândalos obscenos foram
montados dentro do Palácio do Planalto, envolvendo os principais
personagens do Estado-Maior petista.
Hoje o Brasil é governado por uma marionete desse sistema único de
governo (SUG), uma presidente solidária ao seu tesoureiro preso, acusado
de injetar em sua campanha eleitoral dinheiro roubado da Petrobras.
Uma presidente que exalta como heróis os mensaleiros julgados e
condenados. E que presidiu o conselho de administração da maior estatal
brasileira enquanto ela era depenada por prepostos do seu partido.
Foi necessária a confissão de um companheiro uruguaio para desvelar o óbvio: eles sabiam de tudo. Tudo mesmo.
Essa forma única de governar o Brasil só tem uns probleminhas: a
economia acaba de registrar sua maior retração em 20 anos, na contramão
dos emergentes e do mundo; a inflação avacalhou a meta e taca fogo na
antessala da recessão; o desemprego voltou às manchetes, apesar das
tentativas criminosas de esconder seus índices durante a eleição; a
perda do grau de investimento do país está por uma unha de Levy, após
anos de contabilidade criativa, pedaladas fiscais e outras orgias
progressistas para esconder a gastança — a única forma de governar.
Com inabalável firmeza de propósitos, o PT chegou lá: tornou-se o
cupim do Estado brasileiro. Hoje é difícil encontrar um cômodo da
administração pública que não esteja tomado pelo exército voraz, que
substitui gestão por ingestão. O Brasil quer esperar mais quatro anos
para ver o que sobra da mobília.
Mujica disse que Lula não é corrupto como Collor. Tem razão. O
Esquema PC era um careca de bigode que batia na porta de empresários em
nome do chefe para tomar-lhes umas gorjetas. O mensalão e o petrolão
foram dutos construídos entre as maiores estatais do país e o partido
governante. Realmente, não tem comparação.
Os cupins vão devorando o que podem — inclusive informação
comprometedora. As gravações da negociata de Pasadena, presidida por
Dilma Rousseff, sumiram. Normal. Dilma, ela mesma, também sumiu.
Veio o Dia do Trabalho, e a grande líder do Partido dos Trabalhadores
não apareceu na TV — logo ela, que convocava cadeia obrigatória de
rádio e TV até em Dia das Mães. Pouco depois, veio o programa eleitoral
do PT e, novamente, a filiada mais poderosa do partido não foi vista na
tela.
Quem apareceu foi Lula, o amigo culpado de Mujica, vociferando contra
os inimigos dos trabalhadores, as elites, enfim, toda essa gente que
não compreende a única forma de governar o Brasil. E os brasileiros
bateram panela em todo o território nacional — o que algum teórico
progressista ainda há de explicar como uma saudação efusiva ao filho do
Brasil adotado pela Odebrecht.
O ministro da Secretaria de Comunicação disse que é um erro vincular
Lula e Dilma ao PT. Já o PT tenta parecer desvinculado do governo Dilma.
Pelo menos isso: eles sabiam de tudo, mas não têm nada a ver uns com os
outros.
Em meio aos panelaços, foi possível ouvir o balanço da Petrobras
contabilizando 6,2 bilhões de reais de corrupção. Ou seja: as
informações da Operação Lava-Jato, que apontam o PT e a própria
presidente da República como beneficiários do petrolão, foram
oficializadas no balanço auditado da maior empresa brasileira.
Pena Lula não ter conversado sobre isso com Mujica. Os brasileiros
vão ter que perceber sozinhos: esta só continuará sendo a única forma de
governar o Brasil se o Brasil não cumprir o seu dever de enxotar um
governo irremediavelmente delinquente.
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