Milhões de eleitores votam em Dilma por
um único motivo: não querem perder suas “conquistas”, ou privilégios,
dependendo do ponto de vista. O governo abriu as torneiras dos recursos
públicos para agradar diferentes grupos, mas como a economia está
estagnada e a inflação em patamar elevado, os benefícios vão sendo
corroídos e se mostram insustentáveis.
Enquanto a fatura não chega para valer,
porém, muitos se pegam ao que têm: a transferência direta de recursos da
“viúva” para suas contas. E é gente demais recebendo tais
transferências, como mostra Gil Castello Branco em seu artigo de hoje no GLOBO:
O Bolsa
Família atende a 14 milhões de beneficiários, abrangendo 56 milhões de
pessoas. Cerca de um milhão de pescadores (haja pescador…) recebe a
Bolsa Pesca, salário mínimo mensal por quatro ou cinco meses em que as
espécies se reproduzem. Entre os esportistas, 6.715 recebem a Bolsa
Atleta, inclusive os 157 da elite agraciados com a Bolsa Pódio, que pode
chegar a R$ 15 mil. Muitos ainda são contratados pelas Forças Armadas e
patrocinados por estatais.
Nos 39
ministérios e órgãos vinculados existem 97.048 ocupantes de cargos e
funções de confiança/gratificações, dentre os quais 22.729 de Direção e
Assessoramento Superior (DAS). O Minha Casa Minha Vida contemplou 1,5
milhão de novos proprietários. O Minha Casa Melhor já financiou milhares
de móveis e eletrodomésticos. O crédito farto facilitou também as
aquisições de automóveis, motos e outros bens de consumo. Os benefícios
dos cinco milhões de aposentados, pensionistas, desempregados, idosos e
deficientes foram reajustados com base no salário mínimo, em percentuais
superiores à inflação, atenuando defasagem histórica.
Sem
dúvida, há posições ideológicas em favor de ambos os concorrentes, mas
certamente muitos votos são dos que temem perder as conquistas. O medo é
explorado com terrorismo na propaganda eleitoral de Dilma, que tem 74%
das intenções de votos entre os eleitores que recebem o Bolsa Família.
Sob o prisma eleitoral, o dinheiro direto na veia é literalmente um
prato cheio para a presidente-candidata.
A tempestade criada pela incompetência e
irresponsabilidade do governo se aproxima, e coloca em risco várias
dessas regalias ou programas assistencialistas. Não é possível manter um
modelo que apenas tira de uns e transfere a outros, sem fomentar o
crescimento da economia como um todo, com base em ganhos de
produtividade. A própria inflação poderá ser o mecanismo de ajuste para
essa fatura impagável.
Mesmo aqueles que temem perder suas
vantagens e votam em Dilma podem não se dar conta de que estão agindo
contra os próprios interesses, pois a presidente não terá condições de
preservar todas as “conquistas”. É simplesmente inviável, como mostrou a
Venezuela e já mostra a Argentina. Castello Branco conclui:
Em menos
de duas semanas, conheceremos quem irá comandar o Brasil nos próximos
quatro anos. Mais uma vez, os aspectos econômicos serão relevantes. O
seu voto poderá ser decisivo. “É a economia, estúpido!”, diria Carville.
Resta saber o quão “estúpidos” somos.
Tenho esperança de que o brasileiro não
será tão estúpido assim. Inclusive muitos daqueles que declaram voto em
Dilma apenas para preservar sua parcela no gigantesco mecanismo de
transferência de recursos criado pelo PT.
Rodrigo Constantino
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