
Conforme o documento, a Terracap elaborou relação com
509 convidados para assistir a abertura do mundial, em julho último.
Segundo o relatório, como cada convidado recebeu um par de ingressos, ao todo o
órgão adquiriu mil ingressos e mais um camarote com 18 lugares. Entretanto,
algumas das pessoas citadas na lista garantem que os ingressos não
chegaram às suas mãos, e cobram explicações quanto à veracidade da lista.
O deputado distrital José Antônio Reguffe (PDT) relata o sentimento
diante deste cenário: revolta. Com o nome na lista, ele afirma que jamais
aceitaria o convite e exige que o GDF explique o motivo de seu nome ser citado
no relatório. “Eu recusei o convite. Por isso, me causa muita surpresa ser
citado nesse relatório. Isso é revoltante e extremamente grave. Diante disso, a
minha pergunta é: Por que o meu nome está nessa lista? Eu jamais aceitaria um
convite do GDF. É essencial que se investigue o destino que foi dado a esses
ingressos”, cobra.
Investigação

De acordo com o deputado, esse tipo de cortesia fere o direito à
igualdade. “Na minha opinião, não tem que ter nada de graça. A autoridade que
quer ir ao jogo deve ir como qualquer cidadão. Além disso, eu sou totalmente
contra que se gaste dinheiro público de forma indevida”, declarou. O
deputado ressalta que a única vez que assistiu a um jogo no estádio, fez
questão de pagar a entrada.
Ligação

Para a sua surpresa, a brincadeira foi levada a sério pelo governador,
que, depois, o procurou para oferecer o ingresso para assistir ao jogo entre
Botafogo e Goiás. “Quando ele me ligou, eu recusei o convite pela segunda vez”,
salienta.
Versão Oficial
Procurada, a Secretaria de Comunicação alegou que a distribuição dos
convites envolveu também o Cerimonial, a Casa Militar e a Secretaria de
Governo. “Coube à Secom distribuir os convites para jornalistas, artistas e
esportistas. No caso da Secom, todos aqueles que receberam os convites tiveram
de assinar o recibo. Para a elaboração do restante da lista que foi enviada ao
Ministério Público e ao Tribunal de Contas com os nomes dos convidados que receberam
os convites, a Secom valeu-se das informações repassadas pelas demais áreas que
também os distribuíram. Quanto aos critérios para a distribuição dos ingressos,
informamos que a entrega para relacionamento institucional não fere as regras
do contrato de Brasília como cidade-sede da Copa. Ao contrário. A venda direta
dos ingressos pela Fifa à Terracap ocorreu justamente porque não havia qualquer
irregularidade”, informou.
Críticas ao “presente” a autoridades
Citado na lista das pessoas que receberam ingresso para o jogo, o
senador Cristovam Buarque (PDT-DF) faz um apelo ao governador Agnelo Queiroz:
“Causa-me uma profunda indignação terem dito que eu recebi esses ingressos
sendo que eu os recusei. Aproveito para pedir para o Agnelo não me oferecer mais,
pois eu não vou”, sustenta. Além da revolta por estar presente na lista,
o senador garante que é contra esse tipo de favorecimento. “Eu acho um absurdo
privilegiar alguém. É preciso que se critique muito a distribuição de
ingressos”, declara.
Diante da expressiva quantidade de elementos suspeitos no relatório, o
senador pede uma apuração detalhada. “Fui citado nesse relatório falsamente. Eu
não recebi esses ingressos e não fui ao jogo. Fiz questão de não aceitar. É
preciso que exista uma apuração a respeito do que fizeram com esses ingressos”,
declara Cristovam Buarque.
Não foram

Outro nome que figura o relatório é o do deputado distrital Dr. Michel
(PEN). A reportagem entrou em contato com a assessoria dele, que confirmou o
recebimento dos ingressos, mas destacou que o parlamentar não compareceu ao
jogo por motivos pessoais.
A lista
A lista, assinada pelo atual secretário de Comunicação do Governo do
Distrito Federal, Rudolfo Lago, que na época era o secretário-adjunto da pasta,
conta com nomes de outros parlamentares, juízes,
desembargadores e seus respectivos assessores. O preço do mesmo jogo para o
cidadão comum comprar nas bilheterias era de até R$ 500, a depender da área
escolhida.
Para presentear as pessoas da lista com os ingressos, a Companhia
Imobiliária de Brasília (Terracap) tirou dos cofres públicos R$ 3 milhões. Na época,
inclusive, o fato chamou atenção do Tribunal de Contas, que pediu
esclarecimentos. Em nota divulgada em 18 de fevereiro, a Terracap justificava
que cumpria “seu papel no fomento de relações institucionais”.
Comercialização é proibida
O JBr entrou em contato com a Fifa para saber sobre os critérios de
comercialização dos ingressos. Por meio da assessoria de imprensa, a entidade
respondeu que os termos e condições gerais para a utilização de ingressos
proíbem qualquer revenda não autorizada e, particularmente, preços excessivos
sobre os preços originais.
Quanto ao uso de forma publicitária por terceiros, a entidade afirmou
que empresas não patrocinadoras e público em geral podem comprar um pacote de
ingressos por meio dos pacotes de hospitalidade oferecidos pela Match. No
caso dos afiliados comerciais, há uma cota de ingressos reservada para
atividades promocionais, distribuição para clientes e funcionários. Essas
afiliadas costumam usar cerca de 80% dos ingressos comprados em promoções
aos consumidores, de modo que o beneficiário final será um membro do público em
geral. As afiliadas comerciais têm de indicar até janeiro de 2014 quantos
ingressos comprarão das suas quotas e quantos serão devolvidos para venda ao
público.
Sem resposta
Já quanto ao uso dos ingressos pelo GDF, a entidade não respondeu aos
questionamentos e pediu para que a reportagem entrasse em contato com a sede em
Brasília. Porém, até o fechamento da edição, o JBr não conseguiu contato.
Desembargadores
Outro fato que merece destaque é a presença de desembargadores na lista
de quem recebeu ingressos. O artigo 135 do Código de Processo Civil afirma que
juízes ou desembargadores não podem receber dádivas antes ou depois de iniciado
o processo. Caso algum juiz receba presente de uma parte pode vir a responder
por ação de improbidade administrativa, a ser ajuizada na Justiça Federal da
Primeira Região. O recebimento do presente ainda deixa o juiz impossibilitado
de julgar causas daquela parte.
“Testas de ferro”
Para o especialista em ciências políticas da Universidade de Brasília, David Fleischer, a
irregularidade é clara. “Usam essas pessoas como “testa de ferro” e o governo
distribuiu esses ingressos para outras pessoas. É muito difícil apurar para
quem realmente foram destinados”, constata. Ele diz que a única possibilidade
para se chegar ao verdadeiro destino é com a denúncia feita por um membro do
governo.
Fleischer explica que existem duas possibilidades: “Eles usam nomes que
muitas pessoas acham comuns. Podem ter usado o nome dessas autoridades para dar
o ingresso a outras pessoas. Outra possibilidade seria terem vendido esses
ingressos”, pressupõe.
Fleischer sugere que as supostas irregularidades podem ter acontecido
outras vezes. “Se publicaram uma lista dessa maneira, a hipótese de se fazer
isso outras vezes é muito grande. Inclusive no show da Beyoncé é bom verificar
se tem uma lista desse tipo também”, insinuou o professor.
Critérios do relatório
Relatório também assinado por Rudolfo Lago apresenta como justificativa
para aquisição dos ingressos incentivar o investimento no DF por intermédio de
uma política de relacionamento com investidores. Lista também os critérios para
a escolha dos convidados: notoriedade em sua área de atuação, relevância para o
desenvolvimento do DF e ser servidor do GDF.
Ponto de Vista
De acordo com o especialista em gestão pública da Universidade de
Brasília (UNB), José Luiz Pagnussat, as irregularidades precisam ser apuradas.
“É preciso verificar se a irregularidade de fato aconteceu e caso tenha
acontecido é essencial que as imprecisões sejam corrigidas”, declarou. Segundo
Pagnussat, a distribuição de ingressos é injustificada. “Eu não vejo uma razão
clara para que isso ocorra. Afinal, não há um benefício para a empresa e a escolha dos convidados acaba sendo tendenciosa”,
salientou.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário