Manter relações sexuais em áreas das Forças Armadas hoje é crime. Além de um "atentado à busca pela felicidade", Ministério Público acredita que lei prejudica gays e mulheres
O Ministério Público
Federal quer derrubar uma lei da ditadura militar que considera crime qualquer
relação sexual, mesmo que
consentida, mantida em áreas militares. Segundo o órgão, a proibição
restringe o acesso às Forças Armadas para homossexuais e mulheres,
principalmente, além de ser "um atentado à busca pela felicidade".

O crime de pederastia
se caracteriza por "praticar ou permitir o militar que com ele se
pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração
militar". A pena prevista é de seis meses a um ano de detenção.
O caso agora será
julgado pelo Supremo. O relator da matéria é o ministro Luís Roberto Barroso.
No pedido em que fez
ao STF, a Procuradoria cita o psicanalista Sigmund Freud, o antropólogo
Levi-Strauss e até mesmo o deputado federal Jair Bolsonaro. Tudo para convencer
a Corte à derrubar a lei em vigor e reafirmar
que a "aceitação das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo é hoje
uma realidade fática inegável, no mundo e no Brasil".
Veja, a seguir, os
argumentos utilizados no documento (que pode ser visto na íntegra ao final da
matéria):
"Impedir o ato sexual voluntário afronta a dignidade da pessoa
humana. Afinal, Freud nos ensinou que a saúde mental está diretamente vinculada
à possibilidade de alocar libido, isto é, de investir energia sexual nos
objetos de desejo".
"A privação do desejo sexual é, portanto, um atentado à busca pela
felicidade, principalmente tendo em vista que esses atos sexuais não
necessariamente ocorrem durante o serviço".
"A aceitação das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo é
hoje uma realidade fática inegável, no mundo e no Brasil."
"Não subsiste qualquer argumento razoável para se manter no
ordenamento jurídico um tipo penal que pune o ato libidinoso consensual entre
pessoas adultas do mesmo sexo".
"A criminalização de um ato sexual consensual torna-se ainda mais
preocupante quando se tem em vista a especificidade do serviço militar, onde
indivíduos são alocados em um local e convivem única e exclusivamente entre
si".
"A ingerência nas práticas sexuais, como ensina Levi-Strauss, é,
necessariamente, uma tentativa de induzir regramentos que simbolicamente
demonstram o que é moralmente “correto”."
"A lógica militar invoca a figura de homens viris, com alta
capacidade física e, dessa maneira, portadores de níveis altos de
libido".
O impedimento de atos sexuais nos locais de administração militar acaba
por sinalizar um espaço menos adequado para homossexuais, como já vimos, mas
também, ainda que indiretamente, às mulheres. No primeiro caso, porque a figura
do homossexual representa a antítese do homem viril e, no segundo, porque a
mulher causa tentação a essa figura que sustenta a instituição
militar".
“Inclusive, o Deputado Federal Jair Bolsonaro, notório ativista de uma
política contrária aos gays nas Forças Armadas, reconhece a intolerância que
subjaz o tipo penal. Exprime tal opinião para justificar seu parecer favorável
à retirada dos termos pejorativos do comando legal".
Fonte: Exame.com
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