Como votou e se posicionou o PT no Collor? Pela
saída do presidente. Ele foi golpista? Não, seguiu o entendimento
majoritário, ao fim da investigação, que mostrou recursos de origem
escusa no pagamento das contas pessoais do presidente, como na reforma
da Casa da Dinda e outras despesas. Não foi por um Fiat Elba. Foi todo
um conjunto de ilegalidades e uso de dinheiro do caixa de PC Farias.
O
que fez o PT quando o ex-presidente Fernando Henrique iniciou seu
segundo mandato no meio de um desabamento da aprovação por causa da
crise cambial? Defendeu oficialmente o impeachment do então presidente
no “Fora FHC”. Isso é golpismo? Sim. Porque uma crise econômica, como a
que vivemos agora, não justifica o impedimento, apesar de a presidente
Dilma estar fazendo o oposto do que disse na campanha, num claro caso de
estelionato eleitoral. Collor também disse que o seu adversário
prenderia o dinheiro da caderneta de poupança e foi ele que fez isso.
Mas não foi o desastrado Plano Collor, ou seja, o estelionato, que o
derrubou.
Ninguém falou de qualquer indício de dinheiro escuso nas
contas pessoais da presidente, e por isso a comparação com Collor não
se coloca. Mas, sim, há ameaças sobre o governo Dilma. Empreiteiros
investigados na Operação Lava-Jato e outros envolvidos têm falado, em
delações premiadas, de contribuições à sua campanha feitas para se obter
vantagens em contratos com a Petrobras. A maior parte desse dinheiro
foi entregue em doações declaradas. Se restar provado que a doação veio
como parte do esquema do superfaturamento de obras e de contratos da
Petrobras, caberá à Justiça decidir se a pena para o crime é a perda do
mandato. Se forem respeitados todos os procedimentos constitucionais,
diante de provas, não será golpe, mas sim um processo previsto em lei de
impedimento de presidente.
O outro caminho sobre o qual o PSDB
tem falado é o da reprovação das contas. Esse é bem mais discutível. O
TCU tem nome de tribunal, mas não é. Como todos sabem, ele faz parte da
estrutura do poder legislativo e apenas dará um parecer sobre as contas
da presidente em 2014. Os sinais apontados no relatório preliminar do
TCU são suficientemente fortes para que o parecer seja pela rejeição. As
pedaladas fiscais chegaram a R$ 40 bilhões. As maquiagens e as ofensas
contábeis foram numerosas. Se tudo isso for aceito pelo TCU, ele pode
fechar as portas e cuidar da vida porque nunca mais vai dar parecer
contrário a qualquer abuso de chefe do executivo federal. Vai sempre
fazer ressalvas que nunca serão consideradas. Com isso, também,
arquive-se a Lei de Responsabilidade Fiscal, porque ela estabelece
claramente que bancos públicos não podem emprestar para seus
controladores, e aquelas operações são, de fato, operações de crédito. O
que o Congresso decidirá depois é imprevisível.
O
presidencialismo prevê o instituto do impeachment. No parlamentarismo, a
dissolução de um governo é mais simples. No presidencialismo, é sempre
traumático, mas não é golpe se seguir as determinações constitucionais. A
Presidência não é invulnerável ao processo legal. Portanto, a
presidente Dilma só poderia dizer que seus adversários são “um tanto
golpistas” se tentarem apeá-la do poder sem o devido processo legal.
Na
sua entrevista à “Folha de S. Paulo”, a presidente demonstra estar um
tanto exasperada. Entende-se. Este está sendo um difícil começo de
governo. Não por culpa de terceiros, mas dela mesma, da política
econômica que praticou no mandato passado e da linha que adotou na
campanha eleitoral de “desconstruir” adversários e mentir sobre a
conjuntura. A verdade apareceu assim que as urnas foram fechadas e, com
isso, veio o desabamento do seu apoio popular.
Nestes primeiros
seis meses, o governo pareceu perdido, caótico e contraditório. A mais
importante defesa, no momento, seria a presidente governar. E isso não é
moleza
Mirinan Leitão
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