Dos R$ 348 milhões que os
parlamentares incluíram no orçamento de 2014, R$ 50 milhões serão para promover
eventos na área cultural. Nos últimos anos, gastos milionários com a realização
de shows viraram o centro de denúncias de corrupção.
Para os órgãos de controle, há uma
preocupação com a aplicação de recursos em emendas para shows porque a
fiscalização é mais difícil. Os cachês de artistas são pagos sem licitação, com
valores definidos, muitas vezes, sem uma planilha de custos, e não há como
atestar, depois de realizada a festa, as despesas pagas com recursos públicos.
Nos últimos anos, emendas para shows viraram foco de denúncias de corrupção.
Um dos episódios, revelado pelo Correio
em junho, foi o gasto milionário na festa de aniversário de Itapoã. A cidade
carente de infraestrutura teve um evento ao custo de R$ 1 milhão, com cachê de
R$ 400 mil para a apresentação de Amado Batista. O cantor cobra, em média, R$
150 mil para subir ao palco. O evento ocorreu graças a uma emenda do deputado
Aylton Gomes (PR). O episódio resultou na demissão do então administrador da
cidade, Donizete dos Santos, indicado pelo PR.
Em agosto, por decisão judicial, o
administrador de Santa Maria, Néviton Pereira Júnior, uma aposta do PMDB para a
Câmara dos Deputados, também foi afastado após indícios de desvio de verbas
para a contratação de artistas na 23ª edição do Aniversário de Santa Maria
(Fassanta 2013). A emenda para a realização do evento também era de Aylton
Gomes.
Cláudio Abrantes (PT), Rôney Nemer
(PMDB) e Aylton Gomes encabeçam o ranking de emendas para festividades. O
petista separou R$ 6,5 milhões do montante para o setor. Como o distrital tem
base eleitoral forte em Planaltina, a maioria dos recursos foi reservada para
eventos e shows na cidade. Conhecido até hoje por interpretar durante uma
década o papel de Jesus Cristo na Via-Sacra do Morro da Capelinha, Abrantes
destinou R$ 300 mil para a tradicional encenação, além de garantir recursos a
fim de viabilizar outros eventos de Planaltina. Os deputados também inserem
emendas para eventos em áreas como esportes e até agricultura. Abrantes, por
exemplo, separou mais R$ 500 mil para outras rubricas da área vinculadas ao
Orçamento.
Aylton Gomes, que no ano passado
apareceu como campeão de emendas para shows, continua entre os mais festeiros.
Ele reservou R$ 6,4 milhões para o setor cultural e, se depender do distrital,
mais R$ 350 mil serão para apoiar eventos de outras áreas. Assim como outros
colegas que estão de olho nos votos religiosos, Aylton demonstrou preferência
por eventos como a Via-sacra, a Festa de Pentecostes, Hallel, Círio de Nazaré,
Cruzada Evangelística e Corpus Christi.
Já Rôney Nemer reservou
R$ 5,1 milhões para cultura. Ele
decidiu aplicar recursos em eventos como a Festa do Morango, Festflor,
vias-sacras, evento da medalha milagrosa, caldeirão cultural do Varjão, festas
de padroeiros de diferentes cidades do DF, carnaval, Hallel, Festa da Ermida e
micareta católica. Além do montante, Rôney destinou R$ 810 mil para bailes de sociedades
esportivas e torneios.
Com a destinação de R$ 3,7 milhões para
cultura, a líder do Governo na Câmara Legislativa, Arlete Sampaio (PT), aparece
entre os cinco primeiros com mais recursos voltados para o setor. Mas, ao
contrário dos colegas, a parlamentar não focou em eventos. Ela reservou
dinheiro para a Orquestra Sinfônica, a reforma de prédios do patrimônio
histórico, construção de espaços culturais e para o Fundo de Amparo à Cultura.
Já o presidente da Casa, Wasny de Roure, também petista, reservou R$ 4 milhões
para o setor cultural.
Bases
A análise das emendas também revela
privilégios para as bases dos distritais. Enquanto deputados como Rôney Nemer e
Washington Mesquita (PTB) destinaram verba elevada para eventos católicos,
Evandro Garla (PRB), que é da Igreja Universal, reservou um montante
significativo aos evangélicos. Ele previu um gasto de R$ 1,5 milhão para festas
como o Dia do Evangélico, montagem do palco gospel do aniversário de Brasília e
a Marcha para Jesus.
Além dos recursos para shows, os
parlamentares deram atenção especial a áreas consideradas estratégicas para
cada um. Patrício, que é policial militar de carreira, direcionou R$ 3 milhões
em emendas para a segurança pública, com destaque para a reforma de quartéis e
apoio às atividades da pasta responsável pelo setor.
Delegado aposentado da Polícia Civil,
Dr. Michel (PP), que se elegeu com votos de Sobradinho II, também garantiu
benefícios para a segurança pública, principalmente para a corporação a qual
pertence. Ele também deu atenção à sua base eleitoral regional, prevendo
recursos para obras e urbanização de Sobradinho II.
Há casos de deputados que precisam se
dividir para agradar à própria base e também à de aliados. A distrital Luzia de
Paula (PEN) é suplente do correligionário Alírio Neto. Ela destinou recursos de
emendas para Ceilândia, sua base eleitoral, e também para o Guará, onde o
titular do mandato reúne boa parte de seus votos.
O que foi reservado
Os três que mais destinaram dinheiro
para festas e eventos:
Cláudio Abrantes
O ex-Cristo da Via Sacra apresentou R$
6.510.000 para cultura
e reservou R$ 500 mil a eventos em
outras áreas
Aylton Gomes
Destinou R$ 6.450.000 à área de cultura
e R$ 350 mil a apoio
de outros eventos. Emendas dele
derrubaram dois administradores
Rôney Nemer
Reservou R$ 5.180.000 para a área de
cultura
e R$ 810 mil para apoiar eventos de
outras áreas
(*) Os recursos destinados à cultura
são os específicos dessa rubrica, enquanto os de apoio a eventos vão para
festividades de outras áreas.
As emendas dos distritais festeiros
De fácil execução
Os deputados festeiros alegam que
destinam grande volume de recursos para eventos com o objetivo de atender
demandas que chegam aos gabinetes. Os parlamentares também privilegiam a área
cultural com a desculpa de que esse setor é privilegiado na hora da execução
das emendas. Esses recursos podem ser gastos com mais facilidade porque a
maioria dos shows é contratada com dispensa de licitação pública.
O deputado Cláudio Abrantes confirmou
que dá atenção à área de cultura e alega que recebe muitos pedidos para ajudar
a viabilizar a realização de eventos. “Sou de Planaltina, uma cidade com festas
muito tradicionais, como a do Divino Espírito Santo e a Via-Sacra. Acho justo
contribuir com essas manifestações culturais e religiosas”, explicou. A
assessoria de imprensa de Aylton Gomes informou que o parlamentar busca atender
as demandas que chegam ao gabinete. Rôney Nemer preferiu não se manifestar
sobre o assunto.
Arlete Sampaio conta que, no início
deste mandato, ela privilegiava emendas para áreas como saúde e educação. Mas
nenhuma delas foi executada pelo governo. “Não adianta fazermos emendas para
essas áreas porque não há execução. Além disso, a Secretaria de Cultura tem um
orçamento muito pequeno e, por isso, conta com nossas emendas para conseguir
viabilizar projetos importantes. O Festival de Ópera, por exemplo, recebeu
recursos de minhas emendas”, explica.
Comparativo
De janeiro até o início de dezembro, o
GDF pagou R$ 77,2 milhões em emendas. Desse total, R$ 35,3 milhões foram para a
cultura. A bolada é maior até mesmo do que os gastos com obras. Na área de
educação, o valor que acabou executado foi zero. Transporte e saneamento também
não receberam nenhum centavo.
Fonte: Helena Mader-Almino Marcos-Correio
Braziliense - 15/12/2013
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