Recém-inaugurado, o Estádio Nacional sofre com infiltrações, acidentes e vandalismo

O problema que mais compromete a beleza do estádio
encontra-se no piso. Protuberâncias de até 3 centímetros — algumas delas
vertendo água — aparecem no revestimento de quase toda a área por onde circula
o público. Segundo a avaliação de Dickran Berberian, engenheiro civil da
Universidade de Brasília, esse tipo de avaria ocorre geralmente em obras
complexas, tocadas em prazos curtos. Numa empreitada como essa, por causa da
pressa, o revestimento de polímero é aplicado no chão antes da secagem total do
cimento. “Deve-se esperar 28 dias. Se esse tempo não for respeitado, a água do
concreto evapora, forçando o revestimento sintético e provocando essas
saliências”, explica o engenheiro ao analisar uma foto do piso do Mané
Garrincha. Berberian deixa claro que isso não afeta a estrutura nem a segurança
do prédio.
A ação de vândalos também colabora para o desgaste
da arena, que deixou a jogadora Marta, da seleção brasileira feminina de
futebol, emocionada — ela não conteve as lágrimas ao pisar lá pela primeira
vez. No show da banda Aerosmith, em outubro, com um público de 28 000 pessoas, foram destruídas as portas de enrolar dos bares e
diversos acessórios de banheiro. Até agora não houve reposição desse material. Duas
vidraças também foram quebradas na ocasião. Segundo o assessor técnico da
Secretaria Extraordinária da Copa, Ricardo Bittencourt, as depredações feitas
pelo público ocorrem principalmente na área por onde circulam as pessoas que
pagam ingressos mais baratos. “Toda construção, após sua conclusão, necessita
de ajustes pontuais, ainda mais obras complexas e grandiosas”, ressaltou a
Coordenadoria de Comunicação para a Copa em nota oficial.
Nem toda avaria encontrada no Mané Garrincha tem
origem na ação de baderneiros. É o caso das 21 vidraças espelhadas da área
externa que foram quebradas e estão sendo substituídas. Segundo o secretário
extraordinário da Copa, Cláudio Monteiro, os danos foram causados
acidentalmente pelo guindaste usado para a instalação e a limpeza das peças. O
fato estranho é que esses objetos danificados estavam distantes uns dos outros.
Funcionários do local contaram outra história. Os espelhos teriam despencado um
a um por terem sido aplicados fora do padrão. Monteiro nega.
Já o gramado é um capítulo à parte. A primeira
atração musical no estádio, o show Renato Russo Sinfônico, atraiu 45 000 pessoas em junho. Na ocasião, metade do público se acomodou
no gramado sem que ele recebesse nenhum tipo de proteção. Desde esse evento, o tapete verde
nunca alcançou as condições exigidas para abrigar um jogo do Mundial de futebol.
Ao avaliar doze capitais brasileiras que sediarão
a Copa do Mundo, o Instituto Ethos apontou Brasília como detentora do maior
índice de transparência nos investimentos. Contudo, essa qualidade reconhecida
não foi aplicada pelos três assessores do Governo do Distrito Federal em uma
visita de VEJA BRASÍLIA ao estádio. Na terça (10), eles levaram a equipe de
reportagem apenas à ala da arena onde não havia problemas aparentes. Foi
preciso retornar ao estádio em outro momento para atestar uma série de avarias
(veja detalhes no quadro abaixo). “Queria deixar claro que o Mané Garrincha
está inaugurado, mas ainda não foi entregue pelo consórcio que o construiu. Isso
só ocorrerá em março, quando a obra estará totalmente acabada e sem nenhum
defeito”, explica Monteiro. Após essa entrega, o estádio, que foi apontado pelo
secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, como uma das arenas mais bonitas do
mundo, será de inteira responsabilidade do GDF. Mas caberá à população
fiscalizar e zelar pela saúde do nosso gigante.

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