Governo vai ter de se explicar o destino da renda do jogo teste do Mané

Da Redação
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O clima promete esquentar hoje na Câmara Legislativa. Às 10h, a Comissão Especial da Copa do Mundo recebe o secretário do Comitê da Copa, Cláudio Monteiro. Ele foi convocado, segundo o presidente da comissão, deputado Olair Francisco, para dar “explicações sobre os acontecimentos relativos ao Estádio Mané Garrincha”. Além das questões referentes à segurança e ao trânsito, Monteiro será questionado sobre o valor de R$ 1,6 bilhão gasto com a obra, segundo levantamento do Tribunal de Contas do DF, e sobre   negociações que envolveram a renda recorde do jogo entre Santos e Flamengo, que chegou a R$ 6,9 milhões, e o GDF só ficou com R$ 4 mil, referente a uma taxa administrativa.


E não é só. Muitas outras coisas precisam ser explicadas, já que um jogo de empurra-empurra se estabeleceu entre a Secretaria Especial da Copa (Secopa), Federação Brasiliense de Futebol (FBF), o Santos - que teria vendido o mando de campo por R$ 800 mil - e a empresa Aoxy, que ficou com a  renda. 

“É com a CBF”

Ontem, mais uma vez, o JBr procurou o presidente da FBF, Josafá Dantas, que novamente não atendeu a reportagem. Questionada sobre quanto recebeu, o que pagou e quem intermediou a partida com a Aoxy, a entidade informou apenas que “cria condições para que o jogo aconteça. Foi o Santos que vendeu, logo o time deve ser procurado”. 

Na tentativa de complementar a resposta, o assessor Betinho afirmou   que eles não têm participação na negociação. “A federação não tem o que explicar sobre essa situação. Não fizemos negociação nenhuma com empresa alguma”. 


Sobre o lucro com a competição, a reportagem foi informada de que a associação ficou com apenas 5% da renda da partida, parcela garantida por lei, que equivale a R$ 345 mil do total arrecadado. 


Questionado sobre o porquê de o presidente da entidade não se manifestar, o assessor disse: “Não é com ele. É que nem você pedir pro governador falar sobre a Dilma. Falem com a CBF. A federação daqui não tem nada a ver com isso”.

O mistério sobre a arrecadação da partida - com mais de 63 mil pagantes e ingressos de R$ 160 a R$ 400 - ficou maior. Isso porque  as partes envolvidas disseram que todas  as informações estariam   no borderô - uma prestação de contas - que a CBF disponibiliza no seu site 48 horas após a partida. Mas até as 22h30, fechamento dessa reportagem, o borderô de Santos e Flamengo não havia sido divulgado.


Valor do aluguel é questionado


Quem também cobra explicações é a  deputada distrital Liliane Roriz, que protocolou ontem mais um pedido de requerimento para que o GDF preste esclarecimentos sobre o aluguel do Estádio Mané Garrincha no jogo Santos e Flamengo, e como será o procedimento nos próximos eventos. A peça foi lida em plenário e agora depende de votação dos distritais para ser aprovada.

“Incoerente”


"A população precisa saber porque alugaram por apenas R$ 4 mil. E ele vai ser alugado sempre por este preço?", questionou. Segundo a deputada, a receita do estádio é importante para garantir recursos para a manuntenção e operação da arena. "É incoerente manter esse preço. Se ficar assim, vão alugá-lo para casamentos. Nenhuma casa de festas cobra tão barato. Se fosse para isso, valia mais a pena ter construído uma casa de festas mesmo", diz.


Para a parlamentar, uma vez que está construído, o estádio tornou-se patrimônio da cidade: “E, portanto, precisa ser resguardado em todos os sentidos. Indo desde prevenção se pichações até a segurança da população que vai visitá-lo.” 

Venda dos ingressos

A deputada distrital Eliana Pedrosa (PSD), que integra a Comissão Especial da Copa do Mundo na Câmara Legislativa do DF, levanta ainda a suspeita a respeito da venda dos ingressos do jogo entre Santos e Flamengo. De acordo com ela, o problema seria que não foi solicitada a permissão prévia para a venda dos bilhetes, a chamada AIDF, que define a quantidade de ingressos a serem vendidos e, logo, o imposto a ser pago. “Não tenho informações sobre esse pedido de autorização”, disse a parlamentar. 

Na avaliação da distrital, sem a transparência desse dado, fica a dúvida se a empresa Ingresso Rápido, que ficou responsável pela venda dos ingressos normais, teria ou não pagado os impostos do evento. 

No site do Ministério da Fazenda, estão descritos os detalhes da necessidade da autorização prévia. Basicamente, é com o documento que se calcula o imposto a ser pago Sobre Serviços (ISS), que é calculado com base na estimativa, independentemente da quantidade de ingressos solicitada na AIDF.


Outra denúncia que ainda não foi esclarecida diz respeito a uma segunda empresa de venda de ingresso ter sido contratada para cuidar somente dos bilhetes VIPs, dos camarotes. 

Borderô, novamente

Procurada pela reportagem, do Jornal de Brasília, a Golden Goal apenas respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, “que é empresa líder no mercado brasileiro de hospitalidade corporativa em estádios e por esta razão foi contratada pelos organizadores da partida para realizar a comercialização e operação dos camarotes na partida entre Santos e Flamengo, no domingo. As condições comerciais e quantidades vendidas estão disponíveis no borderô do jogo”. 

Também procurada pela reportagem, a Secretaria de Fazenda do DF não se pronunciou a respeito da denúncia. 


Destino da arrecadação


O presidente regional do DEM, Alberto Fraga, também criticou a postura do GDF com relação à transparência com a organização do jogo. “O dinheiro arrecadado sumiu. Para Brasília, sobraram só R$ 4 mil. O governo precisa dar essa explicação: para onde foi a verba?”, indagou. A promessa, continuou o ex-deputado, é de que o dinheiro dos grandes eventos produzidos no Estádio Nacional seria revertido para pagar a grande dívida que do Estado com a obra. “Contudo, isso não deve acontecer”, salientou. 


O ex-deputado destaca, ainda, que “na tentativa de cobrir o rombo com a grandiosa obra, hoje a Terracap está abrindo mão de 235.405 metros quadrados de terras públicas urbanas em local valorizado, vendendo-as e fazendo receita para quitar a dívida. Este mesmo dinheiro poderia ser bem empregado na Saúde, Educação e Segurança da Capital Federal. Estamos vendendo Brasília para pagar uma dívida do governo”, disparou.

MANUTENÇÃO


O ex-parlamentar fez ainda uma conta de quanto deve ser investido mensalmente na arena em manutenção. De acordo com seus cálculos, seriam precisam R$ 6 milhões por mês para manter o local seguro e limpo. “Por ano, vamos gastar R$ 75 milhões no estádio. Esta dívida que o governo assumiu não vai ser paga tão cedo. Parece balela toda essa história de legado”, apontou. 

Versão oficial

Procurada, a Secopa-DF esclareceu a questão das contratações, incluindo a licitação para as empresas que cuidam das lanchonetes do estádio, e o destino da verba com a seguinte resposta: “A Secretaria Extraordinária da Copa informa que o serviço prestado durante os dois eventos-testes foi contratado pela Federação Brasiliense de Futebol, responsável pela operação das duas partidas”.


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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